Confissão de Fé Batista de 1689

Confissão de Fé Batista de 1689
Um exposição objetiva da Palavra de Deus contra as falsas teologias

A Teologia da Cruz

O apóstolo Paulo foi direto à ferida de muitos pseudocristãos de sua época. A cruz não traz em si mesma quaisquer atrativos humanos, carnais. O valor da mensagem da cruz está em oposição direta àquilo que os homens desejam e buscam.

O apóstolo pode até mesmo ter chocado alguns de sua geração, ao confrontá-los em sua ansiedade de poder, sabedoria e domínio (segundo o curso das vãs mentalidades alienadas de Cristo), ao expor a Teologia da cruz: escândalo, vergonha, loucura e fraqueza.

A cruz está no centro da proclamação cristã. Mas a cruz não é algo pelo qual os homens sintam-se naturalmente atraídos. Muito pelo contrário: ela os choca e fere; complica e escandaliza; causa verdadeiro pavor ante o sistema humano decaído. Não apenas o diabo foge da cruz, mas também os homens. E por quê? Porque a cruz anuncia e desnuda o que o homem sempre tentou esconder desde o jardim do Éden.

1) O Juízo e condenação que paira sobre todo homem e mulher

Quando Deus criou o homem, advertiu-o das conseqüências desastrosas da desobediência. O homem desobedeceu assim mesmo. Começava, pois, a tragédia: vergonha ao perceber a nudez; tentativa de ocultar-se aos olhos do Senhor; pretextos para justificar sua culpa, lançando a mesma sobre a mulher, e sobre a serpente; o retorno ao pó, de onde proviera; o trabalho servil; a geração em meio às dores; a expulsão de dentro do jardim. Tudo isso porque o pecado causa separação entre o homem e Deus (Rm 3.23) e traz o juízo divino e a morte (Rm 6.23).

O ser humano procura viver como se toda essa realidade do juízo divino não existisse. Estão aí as falsas ciências a declarar a Palavra de Deus como simples mitologia ou mesmo conto de fadas; cheia de historinhas para entreter a criançada (os intelectualmente fracos, segundo eles). Posta-se ao lado desta a frenética busca pelo entretenimento. Até um dos seus profetas, o alemão Nietzsche, percebia a frustração de sua época ilustrada na busca de "consolações" para o espírito, onde o homem alienado e fracassado ansiava lenitivos para o seu vazio. Tudo para esquecer quem nós somos e a realidade que se nos apresenta independemente de nós mesmos: o Deus Soberano que governa todas as coisas - inclusive nossos destinos; o Deus Todo-Poderoso e sua Eterna ira contra toda a impiedade dos homens (Rm 1.18-32).

Assim, a cruz também é uma ameaça para os homens, porque ela quer fazê-los lembrar-se de sua real condição perante o Senhor, o deus Santo e Eterno. A cruz nos lembra de nossa Queda, do nosso fracasso; do juízo divino que paira sobre todos os que se opõem ao Governo de Deus (Jo 3.36); da condenação que permanece sobre todos - sejam indivíduos, sejam sociedades; da ira e condenação de Deus sobre todo pecado e rebeldia contra o Criador. A cruz nos lembra que Deus odeia eternamente o pecado e que a alma que pecar, essa morrerá (Ez 18.4). A cruz nos relembra que toda rebeldia contra Deus será posta em derrota e penalizada; que o fim de toda criatura no pecado é a condenação eterna (Jo 3.16,18,36). A cruz nos adverte acerca da perdição eterna, do inferno, o destino eterno de uma vida sem a sem reconciliação com Deus em Cristo Jesus.

E isso é tudo o que o mundo jamais gostou de ouvir e nem quer saber. As pessoas fogem e ojerizam tais fatos. São escândalo e loucura para elas; são aborrecivas ao seu moderno estilo de vida – despreocupado com a Palavra de Deus. a cruz é escândalo e loucura porque sinaliza para os homens: "reconheçam o pecado de vocês; arrependam-se. Cuidado com o juízo da Ira de Deus que paira sobre os pecadores" (conf. Jo 3.36). A sentença do Juiz Eterno não foi suspensa: "a alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18.4).

2) A Impotência humana

Muitos reconhecem a situação em que vive o ser humano. Quase todos - nas ciências e religiões - admitem que "há algo errado com o ser humano". Contudo, caem no erro grosseiro de imaginar que o próprio homem pode superar tal situação. Cada período da História é uma repetição dessa mentalidade travestida sob roupagens. Seja no Iluminismo ou Racionalismo - onde a razão, em busca da verdade, seria nossa redentora; seja no Modernismo, onde as máquinas e a tecnologia trariam afinal um novo futuro de glória, tendo como centro catalisador o progresso; seja no Pós-Modernismo, onde a busca fracassada pela verdade nos trouxe aversão a ambas (a busca e a verdade), através da pulverização de todos os conceitos, e do Relativismo, onde tudo se torna aquilo que cada um quiser; ou ainda no Misticismo Espiritualista, onde o homem, que outrora negava a existência do espiritual, agora toma para si a esperança e o deleite de fadas, gnomos e duendes, pedras e cristais, qualquer coisa que sacie este anseio espiritual que todos sentimos.

Mas o resultado sempre será o mesmo: fracasso e frustração. E aí novamente a cruz torna-se indesejada, pois ela nos expõe a incapacidade humana em salvar-se através de suas próprias possibilidades, inclusive de um suposto "livre-arbítrio", pois a Bíblia nos mostra claramente a escravidão humana ao pecado (Jo 6.30-; Rm 1.21-32; Ef 2.3; 4.17-17; 1Ts 4.5). Isso é tão chocante (mas verdadeiro) que frustra até mesmo muitos que se consideram cristãos, mas estão mais acostumados aos princípios neoliberais do que à Palavra de Deus.

As religiões são mais agradáveis do que a cruz. Elas iludem o homem com o agradável discurso de que podemos chagar lá, basta fazermos isto ou aquilo, ou deixarmos de fazer outras coisas; basta sermos sinceros e ajudar o próximo, não é isso mesmo? A cruz, porém, permanece como escândalo e loucura. Ela nos expõe claramente que a situação do homem é tão grave que somente o próprio Deus pode resolver - o ser humano é totalmente impotente quanto a esse assunto. Se Deus não tiver misericórdia, o ser humano cada vez mais afundará nas fossas abissais do pecado e das trevas até as maiores profundezas do inferno.

Ao contrário de todas as religiões, onde o homem pode efetuar sua salvação, seja por obras ou por omissões ou mesmo por força de vontade e autodeterminação (inclui-se aí a heresia do "livre-arbítrio"), a cruz, então, torna-se escândalo e loucura, pois revela plenamente a impotência e o fracasso de todo esforço e possibilidade humanos. Desde Adão e Eva, que coseram folhas para tentar esconder a nudez, a humanidade age com base naquele princípio que subjaz à raiz de toda falsa teologia natural, ou seja, a crença de que o homem pode fazer algo para resolver sua pendência diante de Deus.

A cruz, portanto, desnuda outra vez a humanidade - assim como o Filho de Deus foi crucificado nu, conforme o costume romano. A vergonha da cruz é a nossa vergonha, a nossa fraqueza, a nossa incapacidade total. O Evangelho nos revela, dentre outras coisas, que até mesmo para reconhecer a nossa real situação e arrepender-nos, dependemos totalmente de Deus; o homem não é capaz sequer de operar isso em si mesmo (2Tm 2.25). Somente a iluminação do Espírito Santo procede tal efeito na vida do pecador. Sem tal operação do Espírito Santo de Deus, o homem jamais poderá, sequer, compreender tal Verdade: "Ora, o homem natural não aceita as coisa do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.1).

A cruz quebra nosso orgulho e nossa prepotência - revela nosso real estado perante Deus: mortos em pecado! (Ef 2.1). E um morto nada pode fazer - a não ser que receba gratuitamente o dom da vida em Cristo Jesus (Ef 2.5-9). Na cruz a salvação de um homem somente pode ocorrer de um modo: pela graça, e não pelas obras, contribuição ou esforço humanos. E sabemos que isso é total loucura para os que não foram chamados pela graça soberana do Deus Salvador (1Co 1.18; Jn 2.9).

3) A cruz põe as coisas em seus devidos lugares: Deus é Deus - e homem é pó

A serpente, no Éden, seduziu o homem com o discurso: "sereis como Deus". O homem deu mais crédito à voz do tentador do que à Palavra de Deus. Assim, a humanidade vive desde então na ilusão de que se há um Deus no universo, esse tal só pode ser o homem! A cosmologia humana pressupõe a criatura como o centro do universo, senhor, auto-suficiente e autodeterminada.

A cruz, porém, revela a falácia de tal pensamento. Só há um Deus - e não sou eu e nem você (que lê estas linhas agora). Deus é Deus. E domina absoluto sobre anjos, demônios, homens e cada partícula de matéria do universo. Seu domínio se faz sobre tudo e sobre todos – sem exceções (Dn 4.35; Ef 1.11).

Ele efetua seu Propósito Soberano sem ter que pedir a permissão de quem quer que seja; e nem precisa dar explicações ou justificar-se perante criatura qualquer (Sl 115.3). “Eu sou Deus e fora de mim não há outro”, adverte o Senhor. E ao homem declara: Pulvis est – tu é pó! A Palavra de Deus sempre nos lembra isso: “o homem propõe o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9); “muitos planos há no coração do homem, mas o propósito do Senhor é que prevalece” (PV 19.21); “O Senhor criou todas as coisas com um propósito; até o ímpio para o dia do juízo” (Pv 16.4).

Se isso incomoda a você e lhe desperta ira contra o Soberano Criador e Senhor, o apóstolo Paulo tem uma palavra para lhe dizer: “Quem és tu, ó homem, que questionas a Deus; pode o objeto perguntar ao seu criador: ‘por que me fizeste assim?’. Ou não tem o oleiro autoridade sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra” (Rm 9.19-21). Quem pode impedir ou frustrar qualquer Decreto (propósito soberano) do Senhor? “Bem sei que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser frustrado” (Jó 42.2); “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?" (Is43.13).

A cruz, assim, torna-se outra vez escândalo e loucura para o homem, pois exalta e glorifica o Soberano e Dominador de todo o Universo – que tudo criou, controla e conduz segundo sua própria vontade, dispondo de suas criaturas como bem lhe parecer, inclusive quanto à salvação e condenação (ou, conforme nos ensina a Bíblia, eleição e preterição). A cruz revela que toda honra e glória pertence tão somente ao Criador, e absolutamente nada é devido à criatura alguma, quem quer ela seja: anjo, demônio ou homem!

4) A cruz não é mágico-miraculosa nem filosófico-acadêmico-científica

A Verdade foi revelada aos homens de modo objetivo e categórico: na Pessoa de Jesus Cristo e na Revelação Escrita. Jesus é a Revelação Encarnada. A Bíblia é a Revelação Escrita. Ambos são designados de Palavra de Deus e de Verdade (Jo 1.1; 14.6; 17.17).

As falsas religiões procuram enganam os homens através de apelos fantásticos e mirabolantes. Está aí o falso cristianismo romanista firmado em aparições, milagres de santos e imagens que choram! Já o falso cristianismo evangélico apresenta o apelo de milagres e curas e novas revelações entregues pelos seus profetas apostolicistas durante seus êxtases espiritualistas!

A cruz nos traz ao entendimento a certeza de que a Fé Cristã jamais poderá firmar-se em tais pretextos (Rm 10.17; Lc 16.31; 2Co 5.7; Jo 20.29). E que os que apelam a essas coisas, negligenciando a doutrina da Palavra, negam o Evangelho, ainda que pareçam adeptos do mesmo. O Subjetivismo (cada um tenha a fé do tipo que quiser e todas são válidas!), o Pragmatismo (não estamos preocupados com doutrina, mas em transformar vidas!) e o Espiritualismo (quero poder e não teologia!) são formas de um falso cristianismo que aparentam ter validade, mas negam completamente a Palavra de Deus!

A cruz desmascara tais falsos evangelhos – desligados da doutrina bíblica – e expõe a hipocrisia e alma de lobo que é na verdade o caráter e o evangelho desses falsos pregadores e negociadores da Palavra de Deus. Ela nos lembra de que Deus nos revela a Verdade e nos dá do Seu Espírito Santo através de Sua Revelação Objetiva (a Palavra Revelada, a Bíblia), e não através de misticismos, rituais ou falsas doutrinas. Conhecemos a vontade de Deus através de Sua Palavra que foi dada à Igreja, e não pelas experiências místicas e intimistas (2Pe 1.16-21).

Da mesma forma, a cruz desnuda a mentira que permanece entre os homens (e neste caso especialmente entre os intelectuais), de que a Verdade pode ser conhecida pelos meios científicos. Quantos estão firmados na falsa ciência dos homens. Falsa ciência na medida em que negam a Verdade, a Palavra Revelada de Deus. Quantas baboseiras já foram ditas em nome da ciência! Quantos crimes praticados para sustentar teses sem qualquer fundamento! Onde está a Frenologia (uma antiga ciência que procurava analisar e explicar a personalidade de um homem a partir do formato do seu crânio?). Algo muito semelhante às falsas premissas da Psicologia e da Psicanálise– o xamanismo da sociedade pós-moderna. Nem precisamos tocar na ilusão chamada de Evolucionismo. Será que alguém seriamente se proporia defender tal falácia? Particularmente não acredito. Vejo, sim, homens apegados à mentira por não suportarem a Verdade.

A ciência, naquilo em que confirma a Verdade, deve ser respeitada e aceita por todos – tanto quanto todos aceitamos a matemática, outro campo do conhecimento. Mas ninguém deverá ajoelhar-se à ciência ou aos cientistas em suas teses inverídicas, amparados apenas pela autoridade litúrgica de suas estolas sacerdotais brancas e de seus templos laboratoriais.

Lembremos de Sadraque, Mesaque e Abedenego, que não se prostraram ante o ídolo do imperador – três homens contra o Estado autoritativo no campo da fé, contra a falsa religião negadora da Lei de Deus, contra o mundo e aquilo que ele considera a verdade do momento!

Quem ainda tem dúvidas acerca da falácia do aquecimento global? Somente aqueles que não levam a sério a Revelação Bíblica. Como é triste vermos pessoas e organizações que se dizem cristãs firmadas nos mesmos falsos pressupostos dos homens ímpios! Nunca leram o Salmo 1? “Feliz é o homem que não anda segundo a sabedoria dos ímpios. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite” ( v. 1,2). O apóstolo Paulo nos lembra que “a sabedoria do homem é loucura diante de Deus” (1Co 3.19). A cruz novamente é loucura porque nos indica a loucura que é buscar a Verdadeira Sabedoria fora da Palavra de Deus. A cruz nos lembra que não há Verdadeira espiritualidade senão fundamentada na Doutrina da Revelação da Palavra de Jesus dada à Igreja.

5) A cruz é desnecessária

O mundo e seus ícones procuram glamour, beleza, inteligência, força; o mundo vive para a festa, a diversão, a realização e a felicidade aqui nesta presente era. A humanidade sem Cristo faz deste mundo o significado maior para viver – o materialismo e o hedonismo – onde o ter e o prazer é o que interessa.

A cruz, todavia, nos chama para a humildade, para a simplicidade, para o não-acúmulo de bens aqui na terra, mas no céu – por isso a cruz é desnecessária, isto é, não é exatamente o que os homens querem e procuram em seu distanciamento de Deus.

Jesus nos chama para andarmos contrários a este mundo e seus propósitos, tomando sobre nós a vergonha da cruz. Enquanto o mundo incentiva à posse e à vaidade, a cruz nos convoca a abrir mão, a desprezarmos tal sistema de valor e tudo sacrificarmos nesta vida – a própria vida, se necessário – por amor à Palavra de Deus.

O mundo pensa ter vida em si mesmo. Alienado de Deus, o mundo faz de si mesmo um fim, o centro do universo. A cruz, porém, nos convoca a sair deste mundo, a desprezar tal vivência, ao nos alertar para a morte, que é o fim deste mundo; e ainda nos convoca a morrer para este sistema, a fim de vivermos pela cruz de Cristo (Mt 8.34-38).